Dia 11 de Outubro de 2013 foi histórico na vida de muita gente. Foi um dia histórico na minha vida. Esse dia foi o momento que separou aqueles que viram lendas ainda vivas e aqueles que nunca mais terão essa oportunidade única. Dia 11 de Outubro de 2013 foi o dia que o Black Sabbath tocou em São Paulo para 70 mil pessoas no Campo de Marte, e eu estava lá para passar a palavra adiante.
O dia começou com meu grupo levando um calote no estacionamento. Sim, fomos roubados, já que cobrar 50 dilmas por estacionar em um posto é um roubo. Mas como estávamos de bom humor e já aquecidos com um SOAD e um Massacration na viagem, deixamos quieto. Mas foi depois de comer uma porcaria de um sanduíche que foi cobrado o preço de uma obsidiana é que eu comecei a entender o tamanho do evento da noite.
A rua estava infestada de gente. E quando eu digo que não dava para ver o começo e o fim da horda de pessoas que iam entrar, não é exagero. E lá dentro a situação só complicava. Uma comparação básica a se fazer aqui é o fato da quantidade de gente que estava no Campo de Marte ser o dobro de toda a população da minha cidade. O DOBRO. Era gente pra cacete! E a velha-guarda foi bater ponto também: era um pouco difícil encontrar pessoas com menos de 30 anos. No meio de tanta gente, apenas uma briga quase aconteceu por causa de um playboyzinho que queria se mostrar pra sua namorada enfrentando um velho bêbado (quanta coragem...) e outra briga mais distante, que fez uma boa parte da galera entrar em coro: "Sem... violência!!!! Sem... violência!!!!". Fora isso, foi tranquilo até demais.
Dave Mustaine começou o show no ápice: Hangar 18 foi jogado na cara de todo mundo. A galera vibrou, teve uma certa agitação e, claro, uma emoção tremenda. E não parou por aí: Kingmaker, Peace Sells, Tornado of Souls e o deslumbrante Symphony of Destruction encheram o coração e a cabeça de todos. Por fim, Holy Wars encerrou um show deslumbrante de 1 hora que nem tinha cara de abertura. Infelizmente o som estava relativamente baixo e as pessoas por perto não estavam tão empolgadas como no show do SOAD, o que acabou diminuindo um pouco o tesão (e anulou totalmente o aparecimento de moshs por todos os lados), mas isso não afetou os pontos positivos que Dave fez naquela noite.
Acaba a abertura e as pessoas começam a conversar por todos os lados. Ambiente descontraído e calmo até que, DO NADA, sai uma voz velha, acabada e eterna pelas caixas de som, cantando: "olê, olê olê oô!". Todos se surpreendem e dizemos: "caralho, é o Ozzy!!". E assim começa a tocar os sinos de alerta do War Pigs, e os deuses aparecem.
Não preciso descrever o que foi ver os Pais Criadores do Heavy Metal na minha frente. Butler no canto, Iommi sério e concentrado com seus dedos mágicos e o tio Ozzy, corcunda, velho, gordo, caindo aos pedaços, mas vivo e cantando como nunca. War Pigs foi incrível, mas o resto ainda estava por vir. Into the Void, Under the Sun, Snowblind, Behind the Wall of Sleep, Fairies Wear Boots, Dirty Women... Cada música tinha o seu momento único, seu momento mágico. Ozzy brincava com a platéia fingindo que não escutava nada dos nossos berros e do nosso coro, incentivava a platéia a cantar o "olê, olê olê oô" diversas vezes e brincava com Butler e com Iommi, que cada vez que chegava perto e começava a bater palmas pro guitarrista, o deixava sem graça e o fazia soltar uma risada marota.
Eles tocaram 3 músicas do álbum novo: Age of Reason, The End of the Beginning e a EXCELENTE God is Dead?. Ozzy e cia. me surpreenderam com esse álbum, com tamanha qualidade que lembrava muito as músicas dos anos 70. Mas as antigas é que ainda agitavam mais. N.I.B. foi incrível com a intro de baixo do Gezzer, Iron Man foi o momento que o coro cantou mais alto, mas a parte que mais arrepiou foi quando eles tocaram a primeira música do primeiro álbum. Black Sabbath começou com o Ozzy fazendo uma cara de terror e assombração pra interagir com a música (mesmo não aguentando a própria feição e rindo depois).
No meio do show toca Rat Salad, e é aí que o novo baterista brilha excepcionalmente. Tommy Clufetos é aprendiz de John Bonham, um aprendiz de Bill Ward, o original da banda. E ele fritou na bateria enquanto seus veteranos comiam as groupies bebiam uma água. Empolgou a platéia, estendeu a música, quase perdeu os braços. Sua semelhança com um personagem de livros romanos fez meu partner dizer: "Caralho, ele é Jesus!". E aí começamos a gritar: "Jesus Cristo!!!", e outra pessoa disse: "Jesus tá possuído!!!". Pois é, ele voltou meus caros crentes, mas como um baterista badass incansável!
O setlist termina com Children of the Grave agitando a platéia (com a ponta do "extra extra fucking loco crazy"), enquanto pessoas choravam pela emoção de estar presentes em um momento único. Mas a galera pede um encore. "ONE MORE SONG! ONE MORE SONG!", era possível escutar por todos os lados. E o Príncipe das Trevas aparece e pede pra galera gritar, puxa o coro de um lado pro outro e joga a responsabilidade pro Toninho da Guitarra, que faz a galera explodir com a intro maravilhosa do Sabbath Bloody Sabbath e, sem descanso, mudando pra uma das mais famosas do grupo, Paranoid. "You're beautiful. Good night, God bless you all", foram as últimas palavras de Osbourne no palco, depois de puxar o coro dos olês novamente.
E assim tio Ozzy, Toninho, o velho Butler e Jesus deixam o palco. E 70 mil pessoas voltam pras suas casas sabendo que nunca mais poderão ver esse momento novamente, mas felizes por ter esse momento nas suas mentes. Os pais do metal voltaram com a formação "original" e mostraram pra sua geração e pra mais duas a frente que o Rock não está morto. Mas nos faz perguntar se Deus não está (brinks!).
Esse show foi do caralho.
Uma amostra pra deixar qualquer um arrepiado:
Esse show foi do caralho.
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